Poupança um paradoxo

"Para que a economia brasileira cresça, é preciso investir. Para investir, é preciso poupar - ou seja, deixar de consumir. Um paradoxo diante dos brasileiros, é que o país tem a vocação do crescimento, mas não a da poupança." Eduardo Giannetti

Recentemente o Brasil participou do estudo de letramento financeiro capitaneado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE que demonstraram a necessidade de estabelecer a conversa sobre finanças desde de cedo. Infelizmente discutir assuntos de dinheiro com os pais está associado a níveis mais altos de formação. Questões culturais e sociais brasileiras impendem os pais assumir para seus filhos que determinados gastos não podem ser feitos devido a importância em manter o equilíbrio financeiro familiar.


O estudo da OCDE classificou o Brasil em ultimo lugar na habilidade de letramento financeiro reflexo da falta de domínio da matemática e baixa leitura.

O Brasil tem um histórico de períodos de altas inflação que obrigavam a rápido consumo devido a desvalorização da moeda frente aos bens de consumo e a população não recebeu um conhecimento básico sobre finanças pessoais (orçamento, crédito, taxa de juros e investimentos).

Dados divulgados em algumas pesquisas do SCP e CNDL apontam números assustadores. Hoje mais de 83% dos brasileiros não conseguem guardar um centavo da sua remuneração mensal, mais da metade dos usuários de cartão de crédito não controlam os seus gastos. A consequência é que temos mais de 60 milhões de brasileiros inadimplentes.

Mesmo com a crise, continuamos a ser um paraíso para o setor financeiro. Segundo dados do Banco Mundial, o spread médio dos bancos brasileiros, que indica os ganhos das instituições financeiras com juros, é o terceiro maior do mundo, atrás apenas de Madagascar e Malavi, países do continente africano. No entanto, parte do lucro está ligada também à quantidade de taxas cobradas. Em muitos casos, os bancos chegam a cobrar tarifas indevidas, conforme relatório do Banco Central.

Os resultados estratosféricos dos Bancos são reflexo do desconhecimento e descontrole das finanças pessoais. Atuam como nuvem de gafanhotos em solo fértil oferecendo mecanismos de crédito como cheques especiais e o chamado crédito rotativo que provocam um desastre nas finanças das famílias. Engordando os resultados das instituições e elevando o número de inadimplentes.

Hoje o brasileiro é capaz de assumir um empréstimo com prazo de 60 meses sendo que possui somente 30% do valor total do desejo de consumo, seja um carro ou qualquer outro bem, pagando uma taxa mínima de 2,75% a.m. (38,48% a.a.) corroendo em 35% a sua renda média, segundo a PNAD/IBGE. Este mesmo brasileiro se tivesse uma orientação financeira poderia poupar 35% da sua renda aplicando o recurso na modalidade de menor remuneração disponível (poupança) e no prazo máximo de 24 meses teria o recurso para adquirir o mesmo bem de consumo a vista. Caso este poupador venha manter a poupança de 35% da sua renda no prazo de 60 meses ele teria mais do dobro do valor para consumir. Quem está extremamente ansioso para consumir agora aceita pagar caro e, com isso, acaba comprometendo o futuro de uma família e de um país.

Infelizmente as famílias não sabem quanto gastam e o pior nem quanto ganham para poder gastar.

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