MUSEU da TAM - O Diário da Morte de Milton Terra Verdi

Neste domingo dia 7 de abril de 2013 estive visitando o museu da TAM. O passeio foi agradável no coração do estado de São Paulo a 15 km de São Carlos. As estradas paulistanas são hoje grandes avenidas com movimento constante e basta um pequeno detalhe para provocar grandes congestionamentos como o recapeamento parcial de uma pista.

A nossa programação foi passar por Campinas, cidade prospera no interior paulista, e seguir a São Carlos. Chegamos por volta das 14 horas para o nosso check-in em um dia agradável com pouca chuva típico de outono. A oportunidade de viajar com meu filho caçula onde pudemos trocar experiencia e momentos únicos nesta vida agitada de obrigações e compromissos que assolam a todos na eterna luta da nossa sobrevivência nos privam de estar fazendo descobertas únicas.

Aqueles que vão em busca de aviões acabam descobrindo muito mais como histórias de vida que trazem ensinamentos fortes. Hoje vivemos um mundo onde as aparências são supervalorizadas e acabamos desprezando e desperdiçando riquezas que estão facilmente ao nosso alcance.

Durante nossa visita nos deparamos um Cessna 140 como tivesse saído de um filme de Indiana Jones perdido em uma selva. A seu lado uma foto atrás de um espelho de água corrente. A visita é acompanhada por monitores bem preparados que nos relataram as histórias de cada aeronave e esta em especial tocou minha alma. Estava frente a frente com uma triste história relatada no livro O Diário da Morte de Milton Terra Verdi. Ele e o cunhado, Antônio Augusto Gonçalves, tiveram que fazer um pouso forçado do Cessna 140 em que viajavam no meio da selva boliviana, entre Corumbá e Santa Cruz de La Sierra por falta de combustível e vieram a falecer 70 dias por falta de resgate.

Retornei com o relato e as imagens na minha cabeça e corri para procurar um exemplar do livro hoje esgotado com trechos disponíveis na internet.

O registro começa no dia do pouso forçado, em 29 de agosto de 1960. A 53 anos onde nossos recursos eram escassos para o resgate. De acordo com o relato de Milton, seu cunhado morreu de inanição mais de uma semana depois, após ingerir gasolina pela falta de água. Verdi esperava por um socorro que nunca chegou a tempo. Foram 70 dias de angústia, tendo que conviver com a decomposição do corpo de Antônio. Só podia contar com a água da chuva que vinha de vez em quando. Foram feitas tentativas de se embrenhar na mata fechada, porém em vão. Com fome e sede constantes e mesmo assim ainda conseguia escrever usando mapas e documentos para se manter lúcido. À medida que o tempo ia passando e o socorro não chegava, a solidão e o desespero tomavam conta. No 65º dia, ele escreve sobre como o sofrimento muda a nossa forma de pensar, pedindo a Deus por nova oportunidade de ser bom pai, bom filho e bom marido. Do outro lado, o pai de Milton tentava vencer a burocracia e conseguir ajuda por parte dos órgãos responsáveis pela aviação brasileira. Os bolivianos foram muito mais solícitos no pedido de ajuda. Se a aviação brasileira é complicada nos tempos atuais, imagine como era há 53 anos atrás! Infelizmente, o socorro chegou apenas no dia 24 de dezembro daquele ano, mais de um mês depois de Milton falecer, também de inanição.

A seguir, trecho do diário escrito no 9º dia e trecho de uma carta escrita à sua esposa:

"Como se acabam as ilusões de um homem. Hoje para mim, um litro d'água que é a coisa mais barata que nós temos, vale mais que todo o dinheiro do mundo e um prato de arroz com feijão não tem dinheiro que pague. Se Deus nos der nova chance, temos planos de ser os homens mais humildes do mundo, querendo apenas ter nossa comida, água em abundância e o carinho das esposas, filhos e familiares".

"Minha querida esposa e dedicada mãe de meus filhos, primeiramente, peço que me perdoe pelos maus momentos que te fiz passar, vejo agora que tudo não passa de ilusão, o que vale mais no mundo é a água, a comida de todo dia e o carinho da nossa querida esposa e filhos. Saiba que você foi o único amor da minha vida, não duvides porque é um moribundo quem está falando. Nunca deixes ninguém passar sede, pois é a pior coisa do mundo".

Comentários

  1. Link para o livro completo: http://www.4shared.com/zip/zvjjsVFV/o_dirio_da_morte_de_milton_ter.htm?locale=pt-BR

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  2. esse museu da TAM fica aonde.....sou militar e servi na selva e ouvi falar muito desse livro.

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    1. Rodovia SP-318, km 249,5 - Água Vermelha, São Carlos - SP, 13578-000

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