A classe C mudou (reproduzido do Data Popular)

por Renato Meirelles

O Brasil mudou. Nos últimos dez anos, o Data Popular tem acompanhado de perto a transformação da classe C na nova (e verdadeira) classe média brasileira. No início desacreditada, quase invisível no radar corporativo, a classe C passou a ser um promissor segmento de mercado, e hoje, com mais de 104 milhões de pessoas, e movimentando aproximadamente R$ 1,03 trilhão, se constitui como o verdadeiro mercado consumidor brasileiro. Isso muda tudo. Muda porque a inquestionável relevância deste mercado traz consigo a obrigação de um entendimento muito mais profundo sobre valores, hábitos, emoções, linguagens e atitudes do consumidor emergente.

Afinal, mais do que números, falamos de gente. Gente que rala, gente que sonha, gente que compra. Antes do Plano Real, tínhamos um brasileiro que era otimista por fé. Com o gatilho da hiperinflação no cangote, o salário era gasto assim que entrava na carteira do trabalhador. Sem tempo para comparar preços ou construir perspectivas de futuro, vivia o aqui e o agora. Contentava-se com qualquer produto de segunda oferecido por empresas que, na grande maioria dos casos, ignoravam a existência desse consumidor. A primeira metade da década pode ser considerada um divisor de águas nesse processo de mudança. Com a publicação de A Riqueza na Base da Pirâmide, houve um despertar generalizado dos executivos para analisar a vida dos emergentes. Todo mundo queria entender esse novo consumidor. Na prática, no entanto, as empresas acreditavam que a solução estava em “depenar” produtos para diminuir os preços. Foi o estouro das marcas “talibãs”. Durou pouco. O aumento da renda e do emprego formal e a consequente expansão do crédito deram liberdade de escolha a um consumidor que conta centavos e não pode errar. Exigente, prefere pagar um pouco mais por marcas que têm qualidade testada e aprovada. Os sonhos de consumo se transformaram em metas, em metas, em uma perspectiva real de conquista.

Essa história não começou com Lula e nem vai terminar com ele. A migração social será mantida. A classe D de hoje será a classe C de amanhã. Classe C que, em breve, irá ascender para a classe B.

Aprendemos, nesses últimos anos, que o tradicional e elitista conceito de aspiracional passa longe desse novo consumidor. Um cidadão que tem orgulho de suas raízes.

Hoje não há mais espaço para modelos de negócios que menosprezem a inteligência e as características étnicas e culturais do brasileiro. A realização de pesquisas e imersão de executivos na realidade popular serviram para transformar dinheiro em conhecimento de mercado. Agora o caminho é outro. O investimento em inovação passa a ser fundamental para transformar conhecimento em dinheiro. Dinheiro para quem souber desenvolver produtos, serviços e canais de distribuição que sejam relevantes para um brasileiro que passou a ser dono do próprio nariz, para quem entender que gerar renda na base da pirâmide é o melhor caminho para o desenvolvimento sustentável de um país que será em breve a quinta economia do mundo. Para inovar, a regra é clara. No novo Brasil, ou todo mundo ganha, ou você está fora do jogo. Topa o desafio?

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