Os problemas da pesquisa por quota
Por Jairo Nicolau Cientista político e professor do Iuperj
Nos Estados Unidos e no Reino Unido -- países que têm a maior tradição de pesquisas de opinião -- as pesquisas eleitorais procuram ouvir o entrevistado em sua casa. O que é feito com uma visita domiciliar do entrevistador, ou por um contato via telefone.
Os institutos brasileiros preferem entrevistar as pessoas na rua. As razões alegadas são o custo e a dificuldade de acesso às casas. Uma pesquisa domiciliar custa pelo menos três vezes mais do que a feita na rua, pois o número de entrevistas realizadas por dia é bem menor e o custo de deslocamento até as residências também deve ser considerado. Outro desafio é conseguir ser recebido nas casas, sobretudo nas grandes cidades. Muitos entrevistadores relatam a dificuldade para fazerem suas entrevistas em áreas de alta renda, em condomínios fechados ou, na outra ponta, em comunidades de baixa renda.
A questão fundamental é: onde entrevistar as pessoas que responderão à pesquisa? Esse é talvez o maior segredo dos institutos. Nenhum deles revela detalhes sobre o critério utilizado para selecionar as áreas da cidade onde as entrevistas serão feitas.
Embora existam alguns detalhes sobre como cada instituto escolhe seus entrevistados, alguns passos são comuns:
* A distribuição das entrevistas por diferentes áreas da cidade. Em geral, o percentual de entrevistas em cada área é proporcional ao tamanho da população desta área sobre a população total. Por exemplo; se 15% de paulistanos moram na zona leste, cerca de 15% das entrevistas acontecerão na zona leste.
* O sorteio de alguns pontos dentro de cada área para fazer essas entrevistas. Imagine, por exemplo, uma pesquisa com 1.000 entrevistas, 15% delas serão feitas na zona leste. Essas 150 entrevistas serão realizadas em diferentes bairros da região, que serão previamente sorteados.
* Os diferentes atributos dos entrevistados. Cada entrevistador do instituto faz um número reduzido de entrevistas por dia. Essas entrevistas são orientadas por critérios de quota previamente definidos. Um entrevistador que fará 20 entrevistas por dia tem que escolher seus entrevistados segundo certos critérios. Por exemplo, se a quota for por escolaridade: 12 mulheres (seis analfabetas ou com 1o grau completo; quatro com 2 o grau completo; duas com curso superior) e 8 homens (quatro analfabetos ou com 1º grau completo; três com 2 o grau completo; dois com curso superior completo).
A pesquisa por quota feita na rua pode gerar uma série de distorções. Uma delas tem a ver com o perfil das pessoas que circulam na rua em determinados horários e lugares. Pessoas com empregos formais têm mais chances de ser encontradas no começo da manhã e no fim do dia. Homens aposentados podem ser encontrados nos lugares públicos durante o dia com mais freqüência do que as aposentadas. As donas de casa talvez saiam em horários muito específicos do dia. Certos ofícios permitem que algumas pessoas transitem durante todo o dia na rua.
Os institutos sabem desse problema e, por isso, procuram fazer o campo em diferentes dias e horários. Mas, de qualquer modo, é impossível garantir que algum tipo de distorção não afete a pesquisa. Lembro de uma pesquisa para governador do estado do Rio de Janeiro em 1998, da qual fiz parte. Descobrimos que os entrevistadores estavam ouvindo um número desproporcionalmente alto de pessoas que trabalhavam na rua (ambulantes, camelôs, guardadores de carros). Como esses tinham uma clara predileção pelo candidato Anthony Garotinho, ele acabava sendo super-dimensionado na contagem final da pesquisa.
Outro problema grave da pesquisa por quota feita na rua, tem a ver com os fatores subjetivos que afetam a escolha dos entrevistados. Alguns estudos mostram que esta escolha não é aleatória. Os entrevistadores muitas vezes deixam de entrevistar pessoas que lhes pareçam hostis. Por outro lado, eles podem preferir ouvir pessoas com as quais sintam algum tipo de afinidade (social, de gênero, etária). No agregado, essas decisões dos entrevistadores podem acabar comprometendo o resultado final da pesquisa.
A definição das quotas, os "pontos" onde as pessoas serão entrevistadas, o horário das entrevistas, a disposição e os preconceitos do entrevistador podem ter um impacto significativo sobre o resultado de uma pesquisa. Ainda não temos estudos para dimensionar esses efeitos no Brasil. Mas minha aposta é que boa parte dos "erros" dos institutos estão associados a problemas inerentes à pesquisa por quota feita na rua.
Os institutos brasileiros preferem entrevistar as pessoas na rua. As razões alegadas são o custo e a dificuldade de acesso às casas. Uma pesquisa domiciliar custa pelo menos três vezes mais do que a feita na rua, pois o número de entrevistas realizadas por dia é bem menor e o custo de deslocamento até as residências também deve ser considerado. Outro desafio é conseguir ser recebido nas casas, sobretudo nas grandes cidades. Muitos entrevistadores relatam a dificuldade para fazerem suas entrevistas em áreas de alta renda, em condomínios fechados ou, na outra ponta, em comunidades de baixa renda.
Embora existam alguns detalhes sobre como cada instituto escolhe seus entrevistados, alguns passos são comuns:
* A distribuição das entrevistas por diferentes áreas da cidade. Em geral, o percentual de entrevistas em cada área é proporcional ao tamanho da população desta área sobre a população total. Por exemplo; se 15% de paulistanos moram na zona leste, cerca de 15% das entrevistas acontecerão na zona leste.
* O sorteio de alguns pontos dentro de cada área para fazer essas entrevistas. Imagine, por exemplo, uma pesquisa com 1.000 entrevistas, 15% delas serão feitas na zona leste. Essas 150 entrevistas serão realizadas em diferentes bairros da região, que serão previamente sorteados.
* Os diferentes atributos dos entrevistados. Cada entrevistador do instituto faz um número reduzido de entrevistas por dia. Essas entrevistas são orientadas por critérios de quota previamente definidos. Um entrevistador que fará 20 entrevistas por dia tem que escolher seus entrevistados segundo certos critérios. Por exemplo, se a quota for por escolaridade: 12 mulheres (seis analfabetas ou com 1o grau completo; quatro com 2 o grau completo; duas com curso superior) e 8 homens (quatro analfabetos ou com 1º grau completo; três com 2 o grau completo; dois com curso superior completo).
A pesquisa por quota feita na rua pode gerar uma série de distorções. Uma delas tem a ver com o perfil das pessoas que circulam na rua em determinados horários e lugares. Pessoas com empregos formais têm mais chances de ser encontradas no começo da manhã e no fim do dia. Homens aposentados podem ser encontrados nos lugares públicos durante o dia com mais freqüência do que as aposentadas. As donas de casa talvez saiam em horários muito específicos do dia. Certos ofícios permitem que algumas pessoas transitem durante todo o dia na rua.
Os institutos sabem desse problema e, por isso, procuram fazer o campo em diferentes dias e horários. Mas, de qualquer modo, é impossível garantir que algum tipo de distorção não afete a pesquisa. Lembro de uma pesquisa para governador do estado do Rio de Janeiro em 1998, da qual fiz parte. Descobrimos que os entrevistadores estavam ouvindo um número desproporcionalmente alto de pessoas que trabalhavam na rua (ambulantes, camelôs, guardadores de carros). Como esses tinham uma clara predileção pelo candidato Anthony Garotinho, ele acabava sendo super-dimensionado na contagem final da pesquisa.
Outro problema grave da pesquisa por quota feita na rua, tem a ver com os fatores subjetivos que afetam a escolha dos entrevistados. Alguns estudos mostram que esta escolha não é aleatória. Os entrevistadores muitas vezes deixam de entrevistar pessoas que lhes pareçam hostis. Por outro lado, eles podem preferir ouvir pessoas com as quais sintam algum tipo de afinidade (social, de gênero, etária). No agregado, essas decisões dos entrevistadores podem acabar comprometendo o resultado final da pesquisa.
A definição das quotas, os "pontos" onde as pessoas serão entrevistadas, o horário das entrevistas, a disposição e os preconceitos do entrevistador podem ter um impacto significativo sobre o resultado de uma pesquisa. Ainda não temos estudos para dimensionar esses efeitos no Brasil. Mas minha aposta é que boa parte dos "erros" dos institutos estão associados a problemas inerentes à pesquisa por quota feita na rua.
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